Desde o início da pandemia, o setor imobiliário tem detetado algumas tendências de mudança no mercado residencial, decorrentes de uma transformação de hábitos, formas de trabalho e restrições à mobilidade dos cidadãos, afetando mesmo as relações sociais e o lazer. Neste sentido, a habitação tornou-se um bem valioso, onde realizamos muitas das nossas atividades do dia-a-dia. A Sociedad de Tasación descreveu essa tendência como um "fenómeno 3 em 1". Especificamente, a empresa explica que existem imóveis residenciais que funcionam como primeira casa, segunda casa e também como escritório devido ao teletrabalho.
“Atualmente, estamos a detetar que a procura por habitação está a transformar-se e está cada vez mais determinada em investir na qualidade de vida. Observamos que entre as preferências das pessoas estão casas com mais espaço, melhores vistas ou áreas externas (terraços e jardins). Esta mudança está a ocorrer, sobretudo, naqueles setores da população cujas condições de trabalho lhes permitem ter mais flexibilidade (jovens ou segmentos mais maduros da população com compromissos familiares limitados ou sem compromissos familiares)", disse Leticia Sánchez Franco, analista de mercado da Sociedad de Tasación, ao idealista/news.
Em Espanha, verifica-se que a chamada casa três em um é particularmente prevalente na costa. Segundo o INE, as vendas e compras nos primeiros 10 meses cresceram 36% face ao período homólogo de 2020 (+8,3% face a 2019), impulsionadas pela procura acelerada, quer por reinvestimento ou recuo, e também impulsionado por taxas de juro persistentemente baixas e níveis de poupança acumulados.
"Por tipologia, as transações de habitação unifamiliar cresceram mais do que as de apartamentos, com níveis superiores a 20% em termos de crescimento anual de vendas (cruzando esta barreira no quarto trimestre de 2020 pela primeira vez desde a série começou a ser construída)", explica Sánchez Franco. Com base nos dados da Associação de Registadores, a Cantábria é a comunidade onde se observou o maior aumento anual da compra e venda de casas unifamiliares (+4,6%), seguida das Ilhas Canárias (+3,6%) e as Ilhas Baleares (2,8%).
“Outro dado importante que apoiaria esta tendência são os movimentos migratórios do estrangeiro para Espanha ou entre Comunidades Autónomas, como se pode constatar nos números do Registo Municipal ao longo de 2021, com particular impacto no litoral e também em Madrid”, refere o especialista da Sociedad de Tasación.
“No entanto, apesar de estarmos perante um fenómeno em ascensão desde 2020 e a tornar-se cada vez mais consistente, a sua continuidade dependerá da evolução da covid-19 e de possíveis novas estirpes, bem como do regresso à normalidade e aos hábitos anteriores à pandemia”, acrescenta.
Andaluzia, o hotspot desse fenómeno
Porém, a Sociedad de Tasación não é o único player de mercado que detetou essa tendência. Na Savills Aguirre Newman também acreditam neste fenómeno, especialmente nas localidades do sul de Espanha. "A Costa del Sol está a evoluir rapidamente e o conceito de primeira e segunda habitação está a tornar-se cada vez mais ambíguo no mercado. Temos uma área metropolitana altamente consolidada em toda a província, que oferece todos os tipos de serviços para o comprador nacional e internacional", diz José Félix Pérez-Peña, Diretor da Savills Aguirre Newman Andalucía.
No que diz respeito ao tipo de comprador, o perfil predominante continua a ser o cliente de primeira habitação e luxo nacional e internacional. No entanto, tem havido um aumento exponencial da procura por parte dos novos perfis tecnológicos do Norte da Europa que consideram a Costa del Sol o local ideal para viver e trabalhar remotamente, segundo a consultora. Uma ideia que se encaixa com o fenómeno da habitação três em um e na sua expansão para outras partes da Europa.
“As novas tendências do trabalho remoto mudaram o comportamento dos compradores, que procuram agora áreas mais espaçosas onde possam adaptar as suas casas a estas novas necessidades. Os promotores também se adaptaram a esta mudança e procuram casas ou espaços de trabalho mais espaçosos nas áreas comuns", diz Pérez-Peña. “Málaga e a sua província são já a região mediterrânica com melhores perspetivas de vida e de trabalho, é aquela cuja população mais cresceu em Espanha”, acrescenta.
A realidade é que durante 2021, intensificou-se o ritmo de lançamento de novos projetos no litoral. Além disso, tem havido um interesse crescente de investidores e promotores em adquirir setores inteiros para desenvolver complexos residenciais de qualidade, com maior oferta de serviços e comodidades. Outra razão que refuta a ideia de comprar uma casa não apenas para servir de residência principal.