Os estrangeiros voltam a comprar casas em massa em Espanha após o fim da pandemia de saúde. Segundo dados de cartórios, os estrangeiros compraram 72.987 imóveis no mercado interno no primeiro semestre de 2022, o maior valor da série histórica iniciada em 2007. Além disso, essas transações representaram 20,3% do total registado no país como um todo, igualando o recorde registado no segundo semestre de 2015; e o preço médio pago pelos imóveis atingiu recordes. Temos todos os detalhes sobre as tendências de compra de estrangeiros em Espanha em 2022, onde os compradores holandeses, noruegueses e irlandeses estão em alta.
Quais os estrangeiros que compraram mais imóveis em Espanha em 2022?
Os britânicos, alemães e franceses continuam a ser as nacionalidades com maior destaque, embora no primeiro semestre deste ano os holandeses, noruegueses e irlandeses tenham também protagonizado: lideraram o aumento do número de transações
Como revelam as estatísticas do Conselho Geral do Notariado, compradores da Holanda, Noruega e Irlanda fecharam entre janeiro e junho de 2022 mais que o dobro do número de transações domésticas em comparação com o primeiro semestre de 2021. "Pelo terceiro semestre consecutivo, as vendas e compras feitas por estrangeiros de todas as nacionalidades aumentaram (com um aumento médio de 52,75), mas as feitas pelos holandeses (121,5%), noruegueses (119,5%) e irlandeses (106,7%) também o fizeram, mas com maior intensidade", detalham os cartórios.
- Os compradores da Holanda, em particular, compraram 3.641 casas em Espanha no primeiro semestre do ano: além de bater o recorde da série histórica, os holandeses tornaram-se a sétima nacionalidade mais importante em volume de transações.
- Já os compradores da Irlanda realizaram 1.395 transações, o segundo maior número desde 2007, atrás apenas do primeiro semestre daquele ano.
- No caso dos noruegueses, o número de vendas e compras de casa é menor: foram formalizadas 979 vendas e compras de casa, o valor mais elevado em quatro anos.
Além de formalizarem o dobro das transações do ano passado, os números do idealista/data mostram que a procura de habitação por parte dos cidadãos destes países tem vindo a crescer fortemente nos últimos dois anos. De facto, as procuras de casas à venda no idealista da Holanda, Irlanda e Noruega duplicaram desde 2020.
Até agora, em 2022, houve quase 830.000 procuras por casas na Holanda, tornando-se o quinto país mais proeminente atrás da Alemanha, França, Reino Unido e EUA. Em relação ao ano passado, o aumento é de cerca de 22%, enquanto em relação a 2020 chega a 98,8%.
No caso da Irlanda, os números também refletem a mesma tendência: o número de visitas disparou este ano 32 % face ao período homólogo e 122% face ao ano da covid, situando-se em cerca de 334 mil pesquisas. Alinhado com isto, as procuras da Noruega aumentaram para uma taxa de 18% em relação ao ano passado e 111% em relação a 2020, com quase 131.400 visitas.
Compra de casas em Espanha por estrangeiros está a crescer: porquê?
E qual é a razão deste forte aumento? Os especialistas consultados pelo idealista/news resumem vários fatores entre eles, o impulso do teletrabalho, o clima ameno de Espanha, as boas comunicações, os pólos tecnológicos que se consolidam em Espanha, os preços da habitação comparativamente mais baixos do que noutros países europeus e a crise energética.
Para Luis Corral, CEO da Foro Consultores, alguns dos principais motivos são "teletrabalho, reforma, necessidade de mais espaços abertos, bom tempo e boas comunicações. E nestes tempos de crise energética, viver numa zona muito mais quente, sobretudo em inverno, significa uma economia significativa".
Anna Puigdevall, tesoureira da FIABCI Espanha e diretora-geral da Associação Nacional de Agentes Imobiliários (ANAI), também aponta que o teletrabalho ou trabalho remoto é um dos principais motivos. “Somos um país muito atrativo para todos os profissionais que podem trabalhar remotamente, especialmente do Norte da Europa, como belgas, alemães ou holandeses”.
Mas também destaca que "agora em Espanha temos vários polos tecnológicos muito importantes que atraem talentos: Barcelona sempre foi um deles e agora Málaga está a crescer muito nesse aspeto. Quem se muda para Espanha são profissionais que compram casas com alto poder de aquisição". Na capital catalã, muitas empresas de tecnologia estão presentes no distrito 22@, enquanto no berço da Costa del Sol, gigantes da tecnologia como Google, Vodafone, Oracle e Huawei, além de instituições financeiras como Citigroup, estão a estabelecer-se centros de pesquisa.
Por último, Puigdevall explica que o facto de “o investimento imobiliário ser um investimento seguro e rentável” também está a influenciar, razão pela qual o número de operações realizadas por investidores estrangeiros está a crescer.
Por sua vez, Robin Decaux, CEO da plataforma de investimentos Equito, afirma que "os preços das casas nesses países aumentaram acentuadamente nos últimos anos. Estima-se que só em Amsterdão haja uma escassez de quase um milhão de casas, portanto, comprar um imóvel tornou-se muito complicado. Os investidores desses países estão a olhar para Espanha porque os preços das casas são muito mais baratos do que em seus países de origem e eles podem pagar.
Segundo um estudo da Bloomberg referente ao primeiro trimestre deste ano, a Holanda é um dos países onde os preços das casas estiveram em níveis alarmantes, registando um aumento real de quase 17%. Na Irlanda, o aumento também atingiu dois dígitos (13,9%), enquanto na Noruega foi de 8,1%. Já em Espanha, o aumento foi de 6,3%. A consultoria imobiliária Knight Frank também colocou a Holanda e a Irlanda entre os países do mundo onde os preços médios das casas mais subiram entre janeiro e março de 2022.
O mesmo é mostrado pelas estatísticas do escritório Eurostat da UE. No segundo trimestre do ano, os preços da habitação subiram em média 9,3% em termos homólogos na zona euro e 9,9% no conjunto da União Europeia, enquanto na Holanda a subida ultrapassou os 18% e na Irlanda os 14%, contra 8,1% na Espanha. "É por isso que veremos muitos investidores destes países a chegar ao mercado imobiliário espanhol", enfatiza Decaux.
Onde é que os estrangeiros estão a comrpar imóveis em Espanha
A Foro Consultores sustenta que "o boom do teletrabalho tornou-se uma alavanca de mudança para o investimento estrangeiro ao nível do utilizador, que privilegia ambientes agradáveis e com serviços completos para desenvolver o seu emprego. E não só frente ao mar, mas também em zonas urbanas do litoral cidades".
Segundo o consultor imobiliário, as Ilhas Canárias, Costa del Sol e Valência estão entre as zonas preferidas graças a fatores como o bom tempo e as comunicações são fundamentais. E este ano há um elemento adicional: o custo da energia nos países do norte da Europa será ainda maior do que em Espanha.
Mas, na sua opinião, o exemplo mais claro é Málaga, "onde os estrangeiros, sobretudo os nórdicos, estão a comprar em zonas a reabilitar, mais afastadas da praia. Estão a pensar em habitação, não só para férias, mas também para passar longos períodos de tempo ou mesmo para teletrabalhar", aponta Luis Corral.
Mario Garnica, diretor da Engel & Völkers em Málaga, concorda com esta opinião e acrescenta que no berço da Costa del Sol "uma série de fatores se juntam para fazer da cidade um destino privilegiado para comprar casa, como o clima, a conectividade aérea, o ecossistema empresarial tecnológico, o custo de vida e o seu caráter cosmopolita. Málaga consolida-se como uma das cidades com melhor qualidade de vida e maior projeção internacional no cenário atual”.
Que tipos de propriedades os estrangeiros estão a comprar em Espanha
Quanto ao tipo de imóvel, Garnica afirma que estão a decorrer todo o tipo de transações: compra de imóveis para habitação, segunda habitação e para investimento. O perfil mais repetido é o do comprador entre os 45 e os 60 anos que procura um apartamento no centro histórico, na zona costeira ou uma vivenda. Os holandeses estão entre os principais compradores de imóveis da região, junto com alemães, franceses, belgas, americanos e mexicanos.
Por fim, a Foro Consultores explica que os estrangeiros tendem a comprar “casas maiores do que as compradas pelos espanhóis, com grandes espaços interiores e exteriores, e adaptadas para estadias longas”.
Prova disso é o preço médio pago por estas nacionalidades na compra de casa em Espanha. Os noruegueses pagaram o terceiro valor mais elevado durante a primeira metade do ano (2.701 euros/m2, apenas superados pelos dinamarqueses e americanos), enquanto os holandeses (2.252 euros/m2) e irlandeses (2.092 euros/m2) também ficaram acima do total média para estrangeiros (2.062 euros/m2) e acima do que os compradores espanhóis pagam em média (1.560 euros/m2).